31 de março: 47 anos do golpe militar de 1964.
Capistrano: O golpe de 1964 e a intervenção americana no Brasil
O Centro de Estudos e Pesquisas África/América do Rio Grande do Norte – CEPAARN realizou, nos dias 23 e 24 de março de 2004, no auditório do SESI, em Mossoró, um seminário sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar implantada no Brasil. Esse seminário teve o objetivo de preservar a memória nacional e mostrar as novas gerações os danos causados pelo golpe militar, ao Brasil e ao povo brasileiro. Por Antônio Capistrano*
Muitos lutaram intensamente por Liberdade e Democracia
Os temas escolhidos para os dois dias de atividade foram: 1) O golpe no contexto latino-americano, a expositora foi à professora Maria da Conceição Pinto de Góes (UFRJ); 2) 1964 - o golpe militar no Brasil, o expositor foi o professor Moacir de Góes (UFRJ), ex-secretário de educação do governo municipal de Djalma Maranhão; 3) A ditadura militar – os anos de chumbo, expositora professora Zuleide Faria de Melo (UFRJ) – dirigente nacional do PCB; 4) A anistia e a Nova República, expositor vereador Hugo Manso; 5) O Brasil hoje, perspectivas para o futuro - expositor deputado estadual Fernando Mineiro.
Em todas as exposições os debatedores eram professores da UERN e sindicalistas. No encerramento foi exibido um vídeo com um emocionante depoimento da economista e combatente da luta armada Vera Magalhães, que faleceu recentemente. No próximo dia 1º de abril o golpe de 64, de triste memória, completa 47 anos. Aproveito a oportunidade para fazer uma pequena homenagem ao professor Moacir de Góes, uma das vítimas da ditadura militar, aqui no Estado. Faço essa homenagem reproduzindo parte da palestra proferida por Moacyr no seminário sobre os 40 anos do golpe, realizada também na Assembleia Legislativa. Palestra essa publicada pelo Sebo Vermelho com o titulo “A filha do tempo”. Reproduzo a parte que fala sob a presença americana no golpe, não só aqui, mas em toda América Latina, aonde ele diz:
“...Outra vertente importante do Golpe de 64 é a intervenção americana no Brasil. Aí teríamos de estudar “A Doutrina de Segurança Nacional” (depois transformada na “Doutrina da Contra-Insurgência”) manipulada pela Escola Superior de Guerra, e, a formação ideológica de oficiais das Forças Armadas Brasileiras em escolas e quartéis americanos; a distribuição de dinheiro da Embaixada Americana através do IBADE; a “Aliança para o Progresso”, implantada na América Latina pelos Estados Unidos como forma de intervenção branca para deter a influência da Revolução Cubana; e finalmente, a força naval americana estacionada no litoral do Espírito Santo, abril de 64, em condições de abastecer as forças armadas sublevadas em Minas Gerais e reconhecer o Estado de Beligerância, caso a crise institucional evoluísse para Guerra Civil. O derramamento de sangue e a divisão do Brasil em dois estados foram evitados por Jango que exerceu a política de não-resistência e não aceitou a Guerra Civil.
Eram os tempos da Guerra Fria que, se possível, evoluiria para a guerra quente, segundo a “Doutrina do Dominó”, implantada pelos Estados Unidos na Ásia, o que determinou as divisões da Coreia e do Vietnã.
Aqui, na nossa América Latina, farta foi à safra de Golpes de Estado, manipulada pelos EUA: Guatemala (1954), Paraguai (1954), República Dominicana (1964), Bolívia (1971), Chile (1973), Uruguai (1973), Argentina (1977), Peru e Equador também sofreram intervenções e deposições de Alvarado e Rodriguez, respectivamente.
Quando este quadro sombrio já está desenhado, desenvolve-se, a partir do Chile de Pinochet, com o apoio da CIA, a famigerada Operação Condor que ignora fronteiras nacionais e vai abater os combatentes que resistam pela democracia nos seus exílios onde se encontrem ou nas suas pátrias de origem.
Suspeita-se que as misteriosas mortes de Jango, Juscelino e de Lacerda, os lideres da Frente Ampla, tenham a ver com a mão invisível da Operação Condor. Também comenta-se que o assassinato de dez líderes do Comitê Central do PCB, em 1974, tenha sido o preço a pagar para que a Ditadura começasse a fazer a “abertura lenta, segura e gradual. Esses homens não haviam pegado em armas, mas, articulavam-se, politicamente, em defesa da democracia. Luiz Maranhão era um deles”.
Portando, o 1º de abril, por coincidência, o dia da mentira, os democratas brasileiros não tem nada a comemorar, apenas lembrar os danos causados ao nosso país e ao nosso povo pelo nefasto golpe militar de 1964 e do papel sujo desempenhado pelo imperialismo norte americano, desestabilizando as nascentes democracias em todo o mundo.
*Antonio Capistrano foi reitor da UERN é filiado ao PCdoB
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