A escrita e a relação com o conhecimento
Por Chico Braun
Caro leitor, gostaria de iniciar o texto dessa semana refletindo sobre o exercício da escrita e sua relação com o conhecimento. A escrita pode ser entendida como um momento em que nos posicionamos perante o mundo e as coisas e devemos ter o cuidado de lembrar que escrevemos para alguém e não para si próprio. Os textos que venho escrevendo com o título “Reflexões” é parte de um exercício de semanalmente, dedicar-me a escrita e a reflexão de algum tema relacionado ao “estranhamento” que podemos produzir perante o mundo.
Esse estranhamento parte da necessidade de não nos esquecermos de fazer perguntas, de percebermos o conhecimento como algo que precisa se fazer, se reinventar e para isso se faz necessário fazer perguntas. Sócrates já sinalizava uma questão importante para percebermos isso quando disse: “Quando descobri todas as respostas do mundo, mudaram-se as perguntas”.
Perguntar, estranhar o mundo em que vivemos, pode ser a chave para mudanças que necessitamos fazer enquanto sociedade, enquanto indivíduos. Se queremos tornar nossos filhos cidadãos, indivíduos que possam participar de um projeto de transformação social, político e mesmo econômico, precisamos ensiná-los a estranhar, a fazer perguntas, a saber que as coisas, os sistemas sociais, o conhecimento, os conceitos sobre a sociedade sedimentados na cultura ocidental, precisam muitas vezes serem reavaliados e questionados para que possamos seguir enquanto humanos que nos propormos a ser.
A partir do século XVIII, inventou uma percepção de humanismo baseado numa racionalidade que classificou o mundo e mesmo os indivíduos, o mundo tornou-se um jardim da ciência que através do saber científico classificou as coisas dentro do seu desejo, sujeitando os indivíduos a essa ordem de conhecimento, onde o mundo é explicado e justificado pela razão baseada na ciência.
O conhecimento ganhou estatuto de verdade, os saberes passaram a exercer um poder percebido em nosso mundo, para tratar do corpo doente o saber médico se constituiu nesse espaço de saber, o juiz representa um saber constituído nas leis, os educadores constituem um saber sobre a educação e os psiquiatras sobre a loucura e posteriormente os psicólogos sobre a psique (alma) humana. O ser humano foi sujeitado a um discurso de ciência, esquadrinhado e classificado pela ciência que se colocou como uma verdade (como podemos perceber na obra de Michel Foucault).
A escola moderna foi obra desse processo de sujeição e com o decorrer desse processo a escola deixou de perguntar. Foi culpa da escola? Dos professores? Da sociedade? Deixarei essas perguntas em suspensão para na próxima semana tratarmos da escola e sua relação com o conhecimento e como ela deixou de fazer perguntas, de estranhar o mundo.
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