domingo, 13 de abril de 2014

Notícia da Semana Atualidades (Ucrânia, Rússia e EUA)

Ucrânia: Negócio EUA-Rússia


Por Pepe Escobar
Diário Liberdade
Ucrânia - Redecastorphoto - Quando vocês estiverem lendo isso, a Rússia já terá invadido a Ucrânia. Pelo menos, é o que o Supremo Comandante Aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Otan, o general da Força Aérea dos EUA, Philip Breedlove, anda espalhando. Breedlove-Supremo diz que os russos estão "prontos p'ra sair em ataque" e podem facilmente tomar o leste da Ucrânia. A imprensa-empresa ocidental já tirou do armário os coletes à prova de bala.

"O coração da matéria – encoberto por uma barreira de histeria – é que nem Washington nem Moscou querem que a Ucrânia apodreça como ferida purulenta"

Mas comparem-se Breedlove-Supremo e um diplomata adulto, o Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, que pediu à Otan que por favor desescale essa retórica pró-guerra "irracional", que também inclui pôr fim oficial a toda a cooperação civil e militar com a Rússia e movimentos militares no Leste da Europa.
Disputa
Enquanto a Otan – abreviatura de Divisão Europeia do Pentágono – entra em surto, sobretudo quando fala seu Secretário-Geral, o ridículo Anders Fogh Rasmussen, dinamarquês, que está de partida, vejamos o que realmente se passa, baseados em vazamentos dos dois campos, de Lavrov e do Secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
O coração da matéria – encoberto por uma barreira de histeria – é que nem Washington nem Moscou querem que a Ucrânia apodreça como ferida purulenta. Moscou disse a Washington, oficialmente, que não tem intenção de "invadir" a Ucrânia. E Washington contou a Moscou que, apesar de toda sua retórica demente, não quer expandir a Otan nem para a Ucrânia, nem para a Geórgia.
Faça Washington o que fizer, não conseguirá convencer o Kremlin de que o putsch em Kiev não foi orquestrado, em grande parte, por bandidos aliados ao Kaghanato dos Nulands – da Secretária-Assistente de Estado dos EUA, Victoria Nuland. Ao mesmo tempo, o Kremlin sabe que o tempo corre a seu favor – e que, assim, até considerar a "invasão" do leste da Ucrânia seria totalmente contraproducente.
Facções de Kiev
Juntem a briga de gatos entre as enlouquecidas facções em Kiev, dos fascistas de "Santa" Yulia "Matem todos os russos" Timoshenko; a Gazprom aumentando o preço do gás natural, em 80%; e o Fundo Monetário Internacional pronto para lançar mais um de seus sujos ajustes estruturais na Ucrânia, que fará a Grécia parecer Cinderela brincando num jardim de rosas, e tudo que Moscou precisa fazer é sentar, relaxar e assistir à carnificina (interna).
O mesmo se aplica aos países bálticos – que, nos termos da histeria da Otan, podem ser invadidos semana que vem. Como os países do Báltico são parte da Otan, é esperável, sim, que os Robocops de Bruxelas enlouqueçam total. Mas só neoconservadores arrogantes/ ignorantes marca-registrada acreditam que Moscou romperia complexas relações políticas/comerciais com a Europa – especialmente com a Alemanha – arriscando uma guerra quente pelos países bálticos. Os alemães não querem guerra nem fria nem quente. Ainda que, em evento extremamente improvável, isso acontecesse, o que faria a Otan super-macho, sob ordens do Pentágono? Invadir território russo?
Não se aproveita, nem como piada ruim.

"Quanto à prioridade de Berlin, é pelo menos tentar afastar a União Europeia de um crash monumental, que implica manter a bordo o Clube Med e a Europa Central igualmente devastados economicamente, ao mesmo tempo em que combate contra o crescimento de um imundo neofascismo 'normalizado'"

Por falar de piada ruim, difícil superar Olli Rehn, Vice-Presidente da kafkeana Comissão Europeia, a dizer que "no interesse de manter a paz e a estabilidade em nosso continente", a União Europeia contribuirá para o pacote do FMI/capitalismo-de-desastre de 11 bilhões de euros ($15 bilhões de dólares norte-americanos) para detonar, desculpe, digo "ajudar" a Ucrânia, e, isso, quando cidadãos da União Europeia estão desempregados e/ou lançados à miséria, aos milhões.
Quanto à prioridade de Berlin, é pelo menos tentar afastar a União Europeia de um crash monumental, que implica manter a bordo o Clube Med e a Europa Central igualmente devastados economicamente, ao mesmo tempo em que combate contra o crescimento de um imundo neofascismo "normalizado". "Massivo erro de avaliação", aos olhos dos alemães, não dá nem para o começo. Por que acrescentar um confronto com Moscou a essa bouillabaise indigerível?
Novo eixo em casa
Epifanias de alta arrogância, como o editorial doThe Guardian de 31/3[1] ("ele ganhou uma península, mas perdeu um país") são sem sentido. O mesmo vale para a servil Polônia, em surto, pedindo mais "proteção" à máfia de Bruxelas.
Como esperado, a imprensa-empresa ocidental está espalhando que Putin teria "piscado", quando telefonou ao presidente Obama dos EUA para tentar acertar um pacote-solução – que inclui, crucialmente importante, a federalização da Ucrânia. O governo Obama, apesar de congregar a mais espantosa seleção de mediocridades, sabe que essa é a única via racional à frente. E não há "pressão" que dobre Moscou. Vão longe os dias a go-go de impor qualquer coisa a Boris Yeltsin, beberrão serial. Ao mesmo tempo, Moscou é negociador realista – e sabe perfeitamente que a única solução possível para a Ucrânia tem de ser construída com Washington.
Sem Otan
A Ucrânia assim é, na essência, um detalhe – a "Europa" não passa de assistidor fraco e dependente. Com quem contar, na "Europa"? Com aquela não−entidade estilo Magritte, sem cara, Presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy? Quem já esteve em Bruxelas sabe que "Europa" permanece como grupamento de principados que se bicam em incontáveis línguas. Maquiavel facilmente a definiria nesses termos.
Além do mais, o governo Obama não tem nem ideia do que quer na Ucrânia. Uma "democracia constitucional"? Moscou pode até concordar com isso, embora sabendo, baseada em montes e montes de razões históricas/culturais, que o plano está condenado ao fracasso. Mas a linha vermelha dos russos já foi demarcada por eles, alto e claro, várias e várias vezes: nada de bases da Otan na Ucrânia.
Negociadores racionais em Washington – minoria comprovada – com certeza já perceberam que se não se joga bola com Moscou, a Rússia jogará muito duro no contexto das negociações no P5+1 (membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha) sobre o dossiê nuclear iraniano.
Só cegos não verão que Moscou e Teerã caminham na direção de uma parceria estratégica mais próxima, como Moscou e Pequim. Já há em casa um eixo geopolítico estratégico real – Moscou-Pequim-Teerã – e todo o mundo em desenvolvimento já percebeu que é aí que está a ação verdadeira. Mas no que tenha a ver com a Ucrânia, o fato mais flagrante é que, aí, se trata, completamente, de EUA e Rússia.

Fonte: http://www.carosamigos.com.br/index.php/artigos-e-debates/4024-ucrania-negocio-eua-russia

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