Considerações Sobre o 1º de Maio
Por Chico Braun
O 1º de Maio é um feriado interessante para refletirmos sobre como nas duas últimas décadas estamos nos posicionando frente ao Capital. Podemos considerar o Capitalismo um ser mutante, dissimulado, que se esquiva com muita facilidade e por isso vem sobrevivendo nos últimos dois séculos e meio se considerarmos o advento da Revolução Industrial do século XVIII (aproximadamente 1760).
O Capitalismo Industrial "reinou soberano" até a segunda metade do século XIX, quando com a publicação do Manifesto do Partido Comunista por Karl Marx e Friedrich Engels e da obra O Capital, também de Karl Marx e complementada por Engels, o capitalismo recebeu uma critica contundente e profunda que inspirou diversos movimento políticos e sociais no decorrer do século XX.
No entanto, o final do século XX, foi abalado por uma onda de crise no pensamento social e político com a queda do socialismo soviético em 1991 (Vale lembrar que neste ano completa 20 anos), a Era dos Extremos de Eric Hobsbawm chegara ao fim. Nesse período o pensamento social passou por uma crise de pensamento e posicionamento, Fukuiama decretou o "fim da História", o marxismo estava fadado ao desaparecimento e lembro-me de Marilena Chauí tratando dos "marxistas envergonhados".
O Capital parecia celebrar sua vitória sobre o socialismo, as esquerdas estavam pensando o que fazer frente aos discursos globalizantes e neoliberalizantes que atingia a América Latina na década de 1990. O capitalismo que estamos descrevendo, estava em crise, poderia dizer agonizante que viu no leste europeu e na agora ex-União Soviética a possibilidade de respirar ganhando um novo mercado consumidor.
A tentativa de sepultar o marxismo foi em vão, as questões que Marx apontou no livro "O Capital", estão mais vivas do que nunca. Quando tratamos de Mais-Valia, esse conceito está mais vivo que nunca e podemos dizer que é a mola mestra da existência do Capital. A Mais-Valia é o salário não pago, transformação do em alguém que vende sua força de trabalho e não vende mais seu trabalho.
Esse processo de dá quando se reduz o tempo de produção, se produzir mais em menos tempo, por esse motivo se investe tanto em tecnologia para fazer o trabalhador produzir mais em menos tempo recebendo o mesmo salário. Hoje esse processo ganhou um novo termo, metamoforseando-se no conceito de produtividade. Aumentar a produtividade significa aumentar a "Mais-Valia".
Não pense que na educação a Mais-valia não encontrou seu espaço, ela está presente na quantidade de alunos que temos em sala, muitas vezes salas lotadas, no excesso de trabalho que levamos para casa, nos atributos que temos ao colocar notas em sistemas virtuais (anteriormente era trabalho de secretaria). Isso nos faz assumir cada vez mais uma carga de trabalho não pedagógico, precisamos pensar na no dia do trabalhador no modo como nos portarmos frente ao capitalismo mutante e desgovernado que vivemos.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
domingo, 1 de maio de 2011
Notícia da Semana Atualidades
Preservação ambiental e justiça social global
Pedro Estevam SerranoDesde que o conceito de preservação ambiental surgiu pela primeira vez, o entendimento sobre o que é sustentabilidade passou por significativas transformações. Inegável, por conseguinte, que a discussão atual é mais madura e abrangente que a travada no despontar dessas preocupações. Ressentimo-nos, contudo, de avançar em vertentes indispensáveis ao desenvolvimento do debate ambiental: as dimensões sociais da proteção ao meio em que vivemos.
Por mais absurdo que pareça, o estágio em que nos encontramos permite vislumbrar tais dimensões como degraus inerentes ao tratamento comprometido com o problema, mas experimentamos certa hesitação quando se trata de percorrer esse mesmo trajeto. E a razão para isso é historicamente conhecida: incluir o enfoque social implica em atentar contra interesses há muito consolidados, que servem à manutenção de um status quo ofensivo à própria noção de humanidade cidadã que começamos a construir.
A despeito do senso comum que vem sendo difundido, a comunidade científica não é coesa em torno das causas das mudanças climáticas que nos assolam. Existe um grupo que considera os movimentos de aquecimento da atmosfera como decorrentes da própria trajetória da Terra ao longo das eras, algo vinculado aos ciclos geológicos que intercalam, de tempos em tempos, resfriamento e calor. Um outro grupo, por sua vez, aponta o ser humano como o catalisador dessas mudanças, o verdadeiro responsável pelo início do atual ciclo de aquecimento. No entanto, para ambos os grupos, não restam dúvidas quanto ao papel de protagonista do homo sapiens na aceleração das transformações, por sua influência no meio ambiente, cada vez maior e mais impactante, seja como agente preponderante ou auxiliar das mutações.
É sobre essa convicção científica que se assenta a necessidade de introduzir as dimensões jurídicas e sociais do debate ambiental, a partir da compreensão de que o conceito jurídico de cidadania global pressupõe que sejam equacionados os desequilíbrios sociais existentes atualmente. Em outras palavras, mais assertivas: não há como se falar em equilíbrio ambiental no planeta sem antes debatermos os meios de superar as desigualdades sociais existentes na geopolítica global.
A ONU (Organização das Nações Unidas), um dos organismos internacionais que podem atuar decisivamente para o equilíbrio sociopolítico e ambiental, produziu em 2009 um estudo sobre desastres climáticos no mundo ocorridos entre 1975 e 2007 (“Risk and Poverty in a Changing Climate”, ou “Risco e Pobreza em Mudanças Climáticas”). A esperada conclusão foi que as populações dos países pobres e de governos instáveis ou com instituições menos sólidas sofrem mais danos —e mais profundos e permanentes— resultantes de desastres climáticos do que as populações de países desenvolvidos. A combinação de instituições frágeis, desigualdades sociais e baixo nível de desenvolvimento amplia as consequências das calamidades.
Ora, se a ação do homem é relevante para acelerar os processos de aquecimento global e os desequilíbrios ambientais e se as nações menos desenvolvidas sofrem acentuadamente mais com esse quadro, é preciso atuar em duas frentes de maneira concomitante: trabalhar no desenvolvimento tecnológico e social para mitigar os efeitos da ação do homem sobre o meio ambiente; e, de forma especial e mais urgente, alterar os padrões de consumo no mundo.
A primeira frente é abordada com frequência e muita propriedade pela maioria esmagadora dos ambientalistas, em propostas de ação que vão desde identificar novas fontes de geração de energia limpa, formas de diminuição do ritmo de crescimento populacional e até otimização dos detritos para obter o mínimo possível de lixo ao final da cadeia produtiva. A segunda frente, no entanto, é menos levantada. Há um problema de justiça distributiva no mundo, e a verdade é que não temos como consumir todos no padrão das nações desenvolvidas, porque manter esse padrão e ritmo é perpetuar as implicações sociais nocivas, detectadas pelo estudo da ONU, nos países em desenvolvimento e não desenvolvidos. Em essência, se o ideal de desenvolvimento igualitário entre primeiro e terceiro mundo for realizado, se todos consumirmos no padrão médio de consumo da população primeiro-mundista, os recursos naturais do globo deixarão de existir.
Não podemos mais travar o debate ecológico sem absorver o inescapável prisma social. Da mesma forma, pensar as políticas ambientais doravante é ter de modificar os níveis de consumo do mundo globalizado. Buscar mecanismos de frear a degradação ambiental sem avançar sobre como iremos redistribuir a renda e o consumo mundiais é refletir sobre parte do problema, produzindo uma ideia de sustentabilidade injusta e não cidadã. Porque não podemos mais, como humanidade cidadã, permitir que o hiperconsumo nos países desenvolvidos se dê à custa da miséria dos subdesenvolvidos.
O jornal britânico Daily Mail publicou, em 2010, pesquisa que evidencia essa desproporção de consumo. Em média, as mulheres britânicas têm 12 peças de roupa que não são usadas há anos. Juntar todos os guarda-roupas femininos do Reino Unido resulta em R$ 14,3 bilhões (5,4 bilhões de libras) inutilizados. O exemplo do guarda-roupa feminino serve também para os homens, pois o nível do consumo mundial hoje em dia não é veleidade exclusiva a um dos gêneros, é difundido a quaisquer que sejam os sexos, preferências sexuais, profissões, faixa etária etc. Muito do que consumimos é composto de produtos que não vamos usar. E isso se dá à custa da fome nos rincões mais pobres do mundo —na Ásia, na África, na América Latina, no Brasil, ao menos quando pensamos a distribuição dos patamares de consumo na geopolítica global face a um ecossistema de recursos naturais limitados.
Se não imbuirmos o debate ambiental com a perspectiva de redistribuição de renda e consumo no mundo, se não buscarmos equilíbrio do ser humano com o uso dos recursos ambientais e também com os demais seres humanos, estaremos buscando um modelo de preservação ambiental que, mais uma vez na história, privilegiará os de sempre. Adotando políticas de pura e simples interrupção nos níveis de crescimento de consumo, sem que junto sejam produzidas formas de mitigação nas desigualdades deste mesmo consumo, estaremos condenando a maior parte da humanidade a pagar com a fome pela manutenção dos recursos naturais necessários ao sustento do consumo irracional dos povos privilegiados. Destarte, estaremos distante do que se pode entender por cidadania global.
Debater como controlar o aquecimento global e outras questões que impliquem na preservação da vida no planeta é, portanto, rediscutir as relações sociais e de poder no plano internacional. Devemos estancar os padrões de consumo global, redistribuindo pelo globo seus patamares, através de políticas compensatórias do primeiro mundo ao terceiro, de molde a equalizar o consumo global em patamares mais igualitários e menos agressivos ao meio ambiente. Sustentabilidade real não há sem justiça social global.
Pedro Estevam Serrano
Pedro Estevam Serrano é advogado e professor de Direito Constitucional da PUC-SP,mestre e doutor em Direito do Estado pela PUC-SP.
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