segunda-feira, 11 de abril de 2011

Reflexões

A Cidade e os Processos de Urbanização

Por Chico Braun

Essa semana estava recordando de algumas leituras feitas nos últimos anos e refleti sobre a cidade e os processos de urbanização que foram compostos por um traçado que emergiu com a modernidade no século XV, ganhando novos contornos no século XVIII.

A partir do século XVIII, as cidades começaram a ser pensadas como espaço da circulação, do fluxo de indivíduos e não mais um lugar público, como nos séculos que antecederam a modernidade. Isso me faz lembrar a reflexão de Richard Sennett no livro “Carne e Pedra”, ao analisar a cidade de Washington tratou da maneira como ela foi planejada para o fluxo de pessoas, criando praças, ruas planejadas para circulação e não para a concentração pública.

Nesse sentido, ela passa a ser projetada para o indivíduo, que através da racionalidade científica estava conquistando direitos, liberdade e ao mesmo tempo tornando-se objeto de estudo dos saberes como médico, jurídico, psiquiátrico etc. Os espaços passam a ser projetados por interesses em constituir uma cidade da ordem, da racionalidade, onde o urbano possa ser controlado.

Quando caminhamos na cidade entramos um mundo simbólico em que a circulação dos corpos ganha significação no traçado das ruas, divisão das quadras, alinhamento de calçadas, faixas e sinais para circularmos. Foram criadas formas de proceder circunscrito em nosso corpo e que tornamos naturalizados, como próprio da sociedade ocidental gostaria de lembrar a música de Milton Nascimento Trastevere do disco Minas quando diz: “a cidade é moderna dizia o cego a seu filho” isso remete a ideia de transformação onde os signos dão sentido e dão fluxo à cidade.

As cidades se fixam nas memórias para poderem existir já nos disse Italo Calvino em “As Cidades Invisíveis”, assim, podemos percebê-la como um texto.

Michel de Certeau em a “Invenção do Cotidiano: as artes de fazer”, debate a maneira que podemos perceber uma textualidade ao subirmos no ponto mais alto da cidade, visualizamos um traçado urbano criado pela “estratégia”, planejada para o fluxo e a circulação dos sujeitos. Quando circulamos nela podemos ver os “usos”, as apropriações feitas pelos moradores para fugir da estratégia, percebemos as “táticas” em movimento,  grafites em muros e fachadas, traçados no meio do gramado da praça usado para “cortar caminho”, demonstram o movimento textual da cidade.

Nesse sentido, gostaria de fazer uma pequena reflexão sobre esse aspecto, quando subi pela primeira vez o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, fui impactado por uma imagem muito interessante. O traçado urbano me chamou mais atenção naquele momento do que a vista maravilhosa que se tem da paisagem. Quando olhei o traçado urbano vi exatamente a cidade pensada pela racionalidade, ruas, avenidas, praças, condomínios,  quadras projetadas para a individualidade, para uma cultura do indivíduo.

Ao lado da racionalidade urbana, percebi a lógica que literalmente parecia brotar da terra, as chamadas “favelas”, ou comunidades, estigmatizadas pela razão, se apresentou como antítese da cidade racionalizada. Com casas sem um sentido linear de construção foi possível  perceber uma lógica onde a individualidade não era prioridade e sim um sentimento de coletividade e solidariedade.

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