Algumas ponderações sobre o humanismo.
Por Chico Braun
O conceito de humanismo fundado no advento da modernidade a partir do século XV, provocou um deslocamento epistemológico no pensamento ocidental, transcendendo o conceito de teocentrismo medieval e a ideia de similitude (semelhança) que operacionalizavam a lógica do pensamento e a forma de produção do conhecimento no período medieval.
O século XV viu surgir o humanismo calcado no conceito de antropocentrismo, valorizando o ser humano como centro do universo, inserindo no pensamento ocidental o racionalismo, elevando o pensamento e as práticas sociais a um estado de equilíbrio entre o homem e o universo. O ser humano era percebido como um ser natural, integrado ao mundo natural, o homem era percebido como um ser, onde a existência era percebida através do equilíbrio com a natureza.
O esboço de Leonardo Davinci, o Homem Vitruviano celebra o “homem universal”, ou seja, o ser humano em equilíbrio com o universo. No esboço de Leonardo, o homem dentro do circulo e do quadrado representam as formas perfeitas e a perfeição indica as formas universais ou somente o universo.
O Homem Vitruviano é uma metáfora para entendermos a concepção de humanismo inaugurada pelo Renascimento e como através do humanismo se tratou da possibilidade da procura da busca do aperfeiçoamento do ser humano em suas múltiplas dimensões. O universo representado como a perfeição é entendido como a representação da manifestação divina, portadora a partir de então do entendimento, do conhecimento e do equilíbrio entre a racionalidade e a fé nos preceitos divinos.
Esse equilíbrio baseado no indivíduo, possibilitou o acesso ao campo racional e divino a uma gama maior de pessoas, inclusive posteriormente a criação de Gutemberg (inventor da imprensa).
No entanto, o advento do pensamento ilustrado no limiar do século XVIII, provocou um deslocamento no conceito universal ou, no equilíbrio entre ser humano e universo, quando o racionalismo da ilustração desligou o ser humano do natural, tornando o humano um ser alienado ao mundo natural. Nesse momento, o ser humano passa a agir através da razão, tendo na ciência o sustentáculo da percepção do humano, que parafraseando Nietzchie tornou-se “demasiadamente humano”.
O universo passou a ser visto apenas pelas lentes da ciência, perdendo seu caráter divino, afetando o equilíbrio entre racionalismo e a perfeição do universo. O humanismo carregou-se dos discursos de ciência, da tecnologia, fazendo-nos gradativamente esquecermos que nossa jornada em busca do aperfeiçoamento humano passa pelo equilíbrio entre o racional e a emoção, esta segunda está no universo portadora dos ventos divinos do entendimento, da tolerância, da compreensão, da alteridade, da solidariedade, dos conceitos básicos que nos fazem humanos.
Precisamos olhar o mundo em que vivemos, percebendo que estamos irmanados por um principio universal, a simplicidade, a vontade de seguir a diante é o princípio do aperfeiçoamento humano. Precisamos olhar o universo como o princípio elementar básico das vivências e do equilíbrio entre o racionalismo, essencial para o aperfeiçoamento humano e o universo, sopro divino do conhecimento e da compreensão da trajetória humana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário ou sugestão de temas.