domingo, 4 de setembro de 2011

Notícia da Semana Atualidades


A política por trás dos atos ‘culturais’ dos estudantes chilenos

Para driblar a necessidade de autorização oficial para protestos, jovens promovem eventos de música, dança e teatro em que divulgam suas ideias

Cecília Araújo, de Santiago
Estudantes fazem "Corrida pela Educação" no palácio presidencial de La Moneda para exigir educação gratuita no Chile
Estudantes fazem "Corrida pela Educação" no palácio presidencial de La Moneda para exigir educação gratuita no Chile(Martin Bernetti / AFP)
Nas últimas semanas, toda vez em que se passa em frente ao palácio presidencial La Moneda, se escuta uma música alta. O estilo varia com o dia e o horário: pode ser pop, rock, jazz, metal, eletro. Caminhando pouco mais de um quarteirão em direção à sua origem, chega-se à Universidade do Chile. De lá, o barulho chega a incomodar os ouvidos pela altura. Na porta da universidade, se postam diariamente vários alunos ligados ao movimento estudantil e seus “colaboradores”: DJs, músicos, dançarinos, atores... Atualmente, apenas uma faculdade de todo o campus segue tendo aulas - os próprios alunos escolhem semanalmente se voltarão a estudar na semana seguinte, ou não. Na falta das aulas, os mais engajados optam pelo “voluntariado” em prol da “educação gratuita” e do “fim do lucro".

Entenda o caso


  1. • Em maio, estudantes chilenos tomaram as ruas do país para protestar contra a má qualidade do ensino - e as manifestações seguem ocorrendo quase que diariamente.
  2. • Entre as reivindicações, das quais recebem apoio da maioria da população, exigem principalmente educação gratuita.
  3. • Em resposta, o presidente, Sebastián Piñera, lançou um plano de reforma para o setor, que amplia bolsas de estudos e créditos a taxas baixas a alunos pobres, mas a proposta não foi bem recebida.
  4. • No dia 26 de agosto, os confrontos entre polícia e manifestantes causaram a primeira morte: um adolescente de 16 anos, que foi baleado durante a greve geral (quando centrais sindicais se uniram aos jovens).
Pelas ruas, pedem colaborações financeiras aos passantes para continuarem a divulgação de seus ideais – em grande parte utópicos. Com o dinheiro, promovem eventos: apresentações quase diárias de música, dança e teatro. Desses encontros, podem surgir surpreendentemente atos e marchas sobre o tema. “Há manifestações que acontecem do nada”, opina um deles. Mas a grande maioria deles é combinada previamente, principalmente pelas redes sociais.
Na tarde desta sexta-feira acontece um desses atos programados, desta vez por um “basta à violência contra a educação”, motivado pela noite violenta de 25 de agosto que terminou com a morte de um adolescente e dezenas de feridos. Como as manifestações tem que ser solicitadas e aprovadas pelo governo antes de serem realizadas, os estudantes usam desses atos - que não deixam de ser uma forma de protesto político, só que mais ameno - para divulgar os seus ideais. Esse é um ato pontual, que não foi feito em um lugar central da cidade para reunir muita gente, mas os organizadores acreditam que ações pontuais também ajudam a conscientizar as pessoas. “Decidimos fazer o nosso protesto no bairro Brasil, onde está o colégio, para fazermos nossa parte ao lado do movimento estudantil pelas melhorias na educação”, disse o professor da entidade docente do Chile (Colégio de Professores do Chile), Luis Vicente.
Mais cedo, houve uma marcha não aprovada pelo governo promovida pela Assembleia Coordenadora de Estudantes do Ensino Médio no Chile (Aces) para protestar contra a exclusão de seus representantes na primeira audiência com o presidente Sebástian Piñera, marcada para sábado às 10 horas da manhã. A manifestação, contudo, durou pouco mais de uma hora, contando com algumas poucas centenas de estudantes, e logo foi interrompida pela polícia.
Frequência - Na Universidade Católica, o cenário de mobilização se repete – embora menos drástico. Nesta semana, 16 das 33 faculdades já voltaram às aulas. Mesmo assim, além dos estudantes que estão de fato assistindo às classes, marcam presença diária na universidade também aqueles que organizam fóruns e debates sobre o sistema educacional, e outros que se aproveitam da mobilização para entreter-se ao lado dos outros colegas. São muitos os estudantes de escolas privadas que também se envolvem no movimento estudantil. Esteban Hermosilla, de 20 anos, estudante da faculdade privada Instituto Profissional do Chile, defende a representatividade desses alunos no movimento, que, segundo ele, até agora se focam somente em instituições que recebem aporte público. “Muitos estudantes com poucas condições acabam tendo que entrar em universidades privadas. Pedimos uma reforma que abranja também esses estudantes, para que possam requerer uma participação do estado em seus gastos”, defende.

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