Usos da Simbologia Cristã
Por Chico Braun
A Páscoa é um período interessante, para observarmos uma verdadeira guerra de representações criadas entorno dela. De um lado, um comércio voraz que simplesmente nos faz tornar devoradores de chocolates, enquanto isso o capitalismo agradece pois, assim garantimos sua reprodução. Do outro lado pode-se perceber nos documentários (geralmente transmitidos por canais de TV paga) uma busca incessante por um Jesus histórico, que possa ser provado cientificamente, saem a procura de fragmentos, indício e pistas na maioria das vezes materiais para legitimar ou colocar em dúvida a existência de Jesus.
E nós ficamos no meio dessa guerra de representações, que em nome do consumo foram desconstruindo o sentido cristão da páscoa e principalmente a ideia de renovação, podendo ser entendida como a renovação de princípios, de valores, de amor a vida, o respeito ao próximo, de se renovar a cada dia. Devemos estar mais atentos a maneira como tratamos a Páscoa, isso não quer dizer que devemos abandonar o momento de compartilhar doces e chocolates, mas, ficarmos atento ao sentido da Páscoa e renovarmos nossos valores, aprendendo a respeitar o outro, a diversidade de idéias, de cultura, sermos menos intolerantes.
A tolerância (no grego significa perdoar) é um bom ponto para refletirmos na maneira como os discursos de ciência se apropriam de conceitos, nas últimas décadas cresceram os estudos sobre intolerância o que é louvável. No entanto, se buscarmos no evangelho de Jesus já havia menção a tolerância o que demonstra que o conceito não é novo, talvez somente agora compreendido e que ainda temos muito que amadurecer.
Ciência e fé são campos que ainda não se entenderam, às vezes não se toleram, muitas vezes nem as religiões se entendem, mesmo as cristãs têm dificuldades com a diversidade de idéias e com a própria tolerância.
Um caso muito interessante dessa relação entre fé e ciência é sem dúvida, as polêmicas acerca do Sudário de Turim, que se tem como uma relíquia pois, acredita-se ser a mortalha que cobriu o corpo de Jesus após a crucificação. Desde os anos de 1970 ela vem passando por testes e investigada minuciosamente, inclusive com teste de carbono 14 para sua datação, foram estipuladas algumas datas como sendo um produto da Idade Média, mas não se consegue dizer como foi feito.
No Sudário de Turim, existe traços de sangue humano, de alguém supliciado (Torturado), a imagem gravada ficou impressa numa parte muito fina do tecido o que intriga os cientistas e pesquisadores do sudário. O que ocorre é que não sabem dizer se é verdadeiro ou uma falsificação medieval, o interessante é que isso não é o mais relevante, o que importa é o uso que as pessoas fazem dele, como alimentam suas crenças através do simbolismo que o sudário representa.
Isso também serve para demonstrar que a ciência não pode caminhar sozinha, deve procurar entender que certos fenômenos não compreendem o alcance científico, mas estão numa sintonia mais sutil, fluída e sensível.
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